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Desmantelada estrutura que criava burlas informáticas ‘olá pai, olá mãe’


Texto: Redação | Foto: DR Quarta, 15 de Maio de 2024

A Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem que desmantelou uma estrutura que criava milhares de burlas informáticas ‘olá pai, olá mãe’ e que deteve um homem suspeito dos crimes de burla qualificada, associação criminosa e branqueamento de capitais.
Em comunicado, a PJ explicou que na sequência da denúncia, recebida em janeiro, o Departamento de Investigação Criminal de Leiria fez diligências que permitiram “identificar coincidências e apensar mais sete inquéritos, notando-se a utilização massiva de números de telemóveis irrepetíveis, de operadoras nacionais, para a prática deste tipo de ilícito, o que espoletou alertas e obrigou ao recurso a meios especiais de obtenção de prova”.
De acordo com a PJ, além do detido, cidadão estrangeiro de 38 anos, foram ainda constituídas arguidas a mulher e filha daquele.
“No decorrer da operação, a PJ apreendeu 49 ‘modem’, que acoplavam 32 cartões SIM por aparelho, o que significava que operavam 1.568 cartões em simultâneo”, adiantou a PJ, assinalando que “esta capacidade, num primeiro momento, permitia a criação de milhares de contas, principalmente no WhatsApp, bem como a remessa/receção de mensagens na ordem dos milhares por dia, através da fraude ‘olá pai, olá mãe’ e outros fenómenos de burlas em ambiente digital”.
A Polícia Judiciária esclareceu que se registou “um padrão repetido com a utilização massiva de milhares de cartões, como se depreende da apreensão de 32 mil cartões já utilizados nas práticas criminosas”.
“Foi, também, identificada a interação com terceiros, em rede, sendo recolhida prova de suspeitos residentes num país do centro da Europa”, referiu a PJ, acrescentando que “as diligências de investigação identificaram o local onde estava montada a estrutura informática e de comunicações, no domicílio do detido”.
A PJ acredita que com esta operação é interrompida “a consumação, em território nacional e no estrangeiro, de milhares de burlas informáticas”.
A estrutura responsável por milhares de burlas informáticas ‘olá pai, olá mãe’, agora desmantelada pela Polícia Judiciária, causou um prejuízo de cerca de 40 mil euros às vítimas.
Numa conferência de imprensa realizada na sede da PJ, em Lisboa, o diretor do Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Leiria da PJ, Avelino Lima, referiu que a primeira denúncia surgiu em janeiro, com uma burla de quase 500 euros, mas outra burla associada ao inquérito ascendia a 10 mil euros”, sublinhando os “valores muito altos, que, todos somados, atingem proporções assustadoras”.
“Neste inquérito já estão sete inquéritos apensados e falamos na ordem dos 40 mil euros de lesão daquelas vítimas. Já foram identificados só na PJ quase mais duas dezenas de inquéritos. Todo este trabalho será agora complementado com informações dos outros órgãos de polícia criminal. Aí poderemos ter uma dimensão mais concreta e será de elevadíssima dimensão o número de burlas”, frisou.
Na operação ontem divulgada, a PJ deteve um cidadão estrangeiro de 38 anos suspeito dos crimes de burla qualificada, associação criminosa e branqueamento de capitais, tendo também sido constituídas arguidas a mulher e a filha do indivíduo. Foi também apreendido equipamento digital que permitia o envio de milhares de comunicações em simultâneo, sobretudo a partir da aplicação Whatsapp.
“A complexidade destas investigações é elevada, porque isto não se cinge a Portugal. Estamos a falar de criminalidade organizada, complexa e à escala planetária”, explicou Avelino Lima, que avisou também para a importância de as vítimas comunicarem mais rapidamente com as autoridades: “O importante no imediato é denunciar e não esperar dias. Se fizerem uma denúncia imediata há possibilidades de suster aquele fluxo financeiro”.
O diretor do DIC de Leiria deixou ainda um alerta à população para não cair neste tipo de esquemas fraudulentos e para estar mais atenta aos cuidados necessários nas interações com desconhecidos em ambiente digital, ao lamentar que a “memória do povo parece ser muito curta” e que acaba por cair nos mesmos erros.
“Estamos a falar de algo que infelizmente não estamos a conseguir suster, porque a nossa comunidade nada está a fazer em termos das medidas preventivas e dos cuidados que se impõe ter quando estamos a lidar com ambientes económicos. Os nossos concidadãos continuam a acreditar que vão ganhar dinheiro por andar a responder a mensagens”, disse, apelando ao bloqueio dos números e à comunicação às autoridades.
Avelino Lima notou ainda a existência de “outro modus operandi de burlas que está a surgir com grande quantidade” em Portugal, no qual as pessoas reagem a vídeos ou conteúdos ‘online’ para ganhar alguns euros, mas que depois exigem investimentos avultados para terem acesso a (inexistentes) proveitos de maior dimensão, redundando em “burlas de valores astronómicos”.
Segundo o responsável, o suspeito estava em território nacional desde setembro e obtinha os seus rendimentos a partir desta atividade. A investigação vai continuar, procurando identificar possíveis relações criminosas fora do país.
O suspeito, detido na passada segunda-feira, vai ser presente a primeiro interrogatório judicial, para a eventual aplicação de outras medidas de coação. |



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