(Des)orientação vocacional e mais além
Os dados são claros: os alunos portugueses apresentam maior insucesso no ensino secundário (mais do dobro da taxa média de retenção no 3°ciclo) e, segundo o Edustat 2025 (Fontes de Dados: DGEEC/ME-MCTES), existem dois anos críticos: o 10° e o 12°ano de escolaridade, com taxas de retenção de 11,2% e 13,2%, respetivamente.
Para quem trabalha em contexto escolar, os primeiros semestres são uma ‘roda viva’ de pedidos de mudança de turma e de percursos formativos. 'Os alunos são imaturos', 'Estão mal preparados'. Oiço-o de professores do 10°ano, tal como oiço exatamente as mesmas frases vindas de professores do 7°, do 5° ou logo do 1°ano de escolaridade, numa espécie de desconsolo em cadeia. Lá pelo meio, ainda vou ouvindo: 'Isto é falta de orientação!'; 'Devia haver um encaminhamento como deve ser!'. O próprio Conselho Nacional de Educação, na sua recomendação "Perspetivar o Futuro do Ensino Profissional", elege a "ineficácia" dos programas de orientação vocacional, enquanto um dos problemas do próprio ensino profissional.
Mas será assim mesmo? Falta orientação nas nossas escolas? Serão incompetentes os psicólogos escolares dos diferentes concelhos e distritos do país, face à generalização nacional desta tendência de insucesso?
A verdade é que a orientação vocacional chega, efetivamente, aos nossos alunos. Numas escolas de forma universal, noutras mediante inscrição voluntária; com metodologias, profundidade e sistematicidade variável... mas existe. Destes processos podem constar sessões sobre o mercado de trabalho (o do presente e do futuro, com o que sabemos hoje e com o que não sabemos sobre o amanhã); são desenvolvidas atividades de auto-conhecimento, de reflexão sobre talentos, objetivos, sonhos; organizam-se explanações sobre o nosso sistema educativo e sobre as diferentes ofertas formativas.. Em algumas escolas promovem-se atividades de jobshadowing, noutras visitas a diferentes empresas, a universidades, a feiras de oferta formativa. Aplicam-se provas psicológicas aferindo interesses e aptidões, elaboram-se relatórios ou portfólios. Abordam-se processos de tomada de decisão, fazem-se entrevistas com alunos, reuniões com encarregados de educação, partilham-se intenções de matrícula.
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